segunda-feira, 3 de maio de 2010

A liberdade de imprensa no cotidiano do jornalista

Em 1993, a Unesco definiu 3 de maio como o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa (decisão 48/432, de 20 de dezembro). Esta data comemora a Declaração de Windhoek para Promover uma Imprensa Africana Independente e Pluralista que, por sua vez, foi aprovada em seminário organizado pela UNESCO e pelas Nações Unidas em Windhoek (Namíbia) em 3 de maio de 1991.
Desde então, a UNESCO está empenhada em promover a data pois entende que “O direito à informação é essencial para defender outros direitos fundamentais, para fomentar a transparência, a justiça e o desenvolvimento. Juntamente com o princípio de liberdade de expressão, o direito à informação funciona como apoio à democracia”, declarou Irina Bokova, diretora geral da UNESCO em nota oficial neste ano.
Em geral, as análises sobre o tema liberdade de imprensa não são tão abrangente e ficam restritas à questão da violência contra jornalistas, que, como demonstram estudos da ONU, vem aumentando no mundo, principalmente nos países menos desenvolvidos.
A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), constantemente acusada de estar a serviço dos conservadores americanos e europeus publicou, às vésperas do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, uma lista daqueles que ela considera os "40 predadores" da liberdade de imprensa. A organização denuncia líderes políticos, religiosos e organizações terroristas que, "estão acima da lei" e prejudicam o trabalho dos jornalistas. Na lista figuram chefes de Estado (Raul Castro, Kim Jong-il, Mahmoud Ahmadinejad e Muammar Kadaffi) e organizações criminosas ou terroristas (Máfia, ETA, as FARC e os cartéis da droga mexicanos). Ela considera-os como "predadores" da imprensa.
No Brasil, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) aderiu à campanha da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA) divulgando textos editoriais e material publicitário sobre a data para serem veiculados pelas empresas, voltados diretamente para as ameaças físicas e contra as perseguições políticas aos jornalistas feitas por estados supostamente não democráticos.
Mas os discursos sobre o assunto geralmente são direcionados invariavelmente para a denúncia contra a violência que atinge os jornalistas ou mesmo para atacar países não alinhados, dizendo que não possuem Liberdade de Imprensa, mas não abordam um assunto extremamente delicado e essencial para o jornalismo: o controle e direcionamento dos textos jornalísticos publicados, mesmo em países que supostamente praticam a liberdade de imprensa. Nenhuma palavra sobre o monopólio da imprensa ou dos interesses econômicos que subjugam redações e seus jornalistas. A liberdade de expressão acaba sendo apenas a liberdade de expressão dos donos da mídia. Apesar de mais sutil, escrever sob coação psicológica, ameaça constante de demissão, em condições precárias de trabalho e oprimido por baixos salários tolhe tanto a liberdade de imprensa quanto uma agressão física.
Abordar o tema de uma maneira mais ampla não interessa às empresas jornalísticas – e seus defensores - que querem manter o conceito de Liberdade de Imprensa restrito ao óbvio para, assim, poder manipulá-lo de acordo com seus interesses.
Os profissionais do jornalismo precisam assumir para si a ideia de que a Liberdade de Imprensa é algo substantivo no dia a dia do trabalho jornalístico e não apenas uma abstração a ser invocada em momentos de crise ou manipulada para compor o marketing social das empresas. Se conseguirmos essa reviravolta, vamos comemorar a verdadeira liberdade de imprensa.

José Augusto Camargo (Guto) – presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

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